Maria de Lurdes Pintasilgo passou diretamente da câmara corporativa – um dos pilares institucionais do Estado Novo – para o II governo provisório, como ministra dos Assuntos Sociais. A convite de Marcello Caetano, presidiu ao grupo de trabalho para a participação da mulher na vida económica e social, na dependência do secretário de Estado do Trabalho e Previdência, do Ministério das Corporações e Previdência Social.
Mais tarde, é primeira-ministra de um governo de iniciativa presidencial - nomeado por Ramalho Eanes - com o objetivo de governar o país até às eleições seguintes. Foi o famoso governo dos 100 dias, que existiu entre julho de 1979 e janeiro de 1980. Pintasilgo tomaria posse como primeira-ministra dois meses depois de Margaret Thatcher subir ao poder no Reino Unido.
Foi a primeira mulher candidata a Presidente da República em Portugal, nas eleições de 1986. Nesse ano, houve três candidaturas à esquerda: Pintasilgo, Mário Soares e Salgado Zenha. No fim, Pintasilgo obteve apenas 7,5% dos votos, apesar de uma gigantesca onda à volta da sua candidatura.
Depois da derrota - Mário Soares vence a primeira volta das presidenciais -, Lurdes Pintasilgo é, no ano seguinte, eleita deputada pelo PS ao Parlamento Europeu.
De um olhar de relance pela biografia de Pintasilgo ressalta o facto de ser quase sempre a primeira mulher nos campos a que se dedicou. Primeira mulher quadro superior da maior empresa nacional da época, a CUF, em 1953. Primeira a exercer, em 1974, um cargo ministerial, primeira a chefiar um Governo, primeira a concorrer à Presidência. Católica praticante, fundou em Portugal o movimento cristão Graal, com Teresa Santa Clara Gomes, amiga de sempre. Engenheira química, teve cargos de topo em várias empresas.